Contagem de palavras: 439
A floresta vazia me encarava silenciosa pela janela da sala. Quilômetros e mais quilômetros de árvores imóveis, como uma pintura triste. Folhas secas se seguravam o máximo que podiam aos galhos frágeis, similares a ossos de corpos sem vida.
A grama esmaecida parecia dar seus últimos suspiros. O céu estava cinza, mas não havia sinal de chuva. Era seco. Sem saturação. Tão quieto que chegava a ser claustrofóbico, como se a acinesia do horizonte sugasse todo o ar da atmosfera, e só restasse a mim. Ali, morrendo, secando como uma uva passa, mas sem envelhecer.
Tudo era pesado. A gravidade não permitia que eu abrisse a boca e nem desse um passo à frente. Uma energia desconhecida pressionava seus dedos arqueados contra minha garganta sempre que eu tentava pedir por ajuda. Nem mesmo meu sangue corria por minhas veias, tamanha a quietude.
Era este o fim? Assim seriam meus dias, pela eternidade purgante em uma fotografia sépia? Encarando sem piscar com meus olhos esbugalhados, presos em um único ponto, por terem perdido a lubrificação? Como eu havia chegado ali? Quanto tempo havia passado?
Já não sabia mais se minhas memórias eram mesmo memórias ou apenas devaneios, sonhos de uma vida fabulosa. Eu havia nascido? Havia vivido? Sempre estive aqui? Algum dia a vida foi diferente? Isto sequer fazia parte da vida? Estava em um limbo? Seria o inferno? Estes são mesmo meus pensamentos ou há alguém aqui comigo?
Minhas bochechas atrofiadas em um sorriso já não doíam mais. Se existisse um Deus, ele já deveria ter me ajudado a essa altura; eu rezei incansávelmente tantas vezes sem cessar que as palavras vinham na minha cabeça automaticamente. Não tinha outra coisa no meu cérebro. Não havia mais nada, só o vazio, o Pai Nosso e a floresta.
A floresta! Tinha até me esquecido de que ela estava lá. Parada como sempre em seu tom marrom opaco. Uma neblina, um borrão com formas que deveriam ser árvores. Constante, sem mudanças. Só eu. E a floresta. E meu Deus hipotético.
Uma vez pensei ter conseguido pedir por socorro. Mas nada aconteceu. Minha voz ecoou por um tempo e nada mudou. Então fiquei em dúvida se eu realmente havia falado ou se estava só pedindo em minha mente para meu Deus hipotético. Não devo ter falado. Se eu realmente falei, alguém deveria ter escutado, não é? É, sim. Alguém já deveria ter me encontrado. Uma pessoa não hipotética, um animal. Qualquer coisa deveria ter me encontrado. Não falei. Não, foi só minha imaginação. Foi só isso.
Se uma árvore cai e não há ninguém para ouvi-la, então ela realmente fez algum som?
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